quarta-feira, 15 de março de 2023

SEM AÇÚCAR


Terezinha Malaquias


Estou num processo de vida muito curioso, talvez interessante. Começo uma tentativa de me abrir para mim mesma e acolher-me.


Tenho olhado mais para dentro de mim do que para fora. Mais fundo do que na superfície. Encaro com medo, ora com coragem, todas as pessoas que eu sou. Todas as mulheres que há em mim. Sou muitas e os sentimentos se misturam como dança improvisada. Às vezes coreografada.


Encarar as dores, aceitá-las e conviver com elas. Elas moram no meu templo casa. Sinto que de alguma forma, de algum jeito, eu as convidei para morarem em mim.. Elas são chatas, mas são inquilinas da minha habitação.


Hoje de manhã, por volta das 06.00h da manhã nascendo dia, eu me sentei na minha cozinha. Coloquei a cadeira de madeira, de cor clara, bem em frente para a janela grande de vidro que precisa ser limpa quando eu quiser.


Olhei para fora e o meu olhar voltou-se para dentro. Pensei: „já que vocês dores vieram, fiquem à vontade. A casa é nossa. Podemos compartilhá-la“.


Percebi na hora que elas se ajeitaram confortavelmente, como eu nunca tinha visto antes. Sorri

aliviada. Sabia que a nossa convivência seria um desafio diário, carregado de afeito e respeito, mas sem açúcar.




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Finitude

FINITUDE

Quando tudo acabar
A essência ficará
No coração da memória
Para sempre!

When everything ends
The essence will remain
In the heart of memory
Forever!

@terezinhamalaquias

Obrigada, Danke, Thanks: @claresommah , @genivaldo_amorim Gerhard Borchert, Maria da Graça Silva e Tayna Pacheco

#terezinhamalaquias
#videoperformance
#performanceart
#performance
#performer
#performerin

segunda-feira, 4 de julho de 2022

O CARTOMANTE OU PROSEADOR

 O Cartomante ou Proseador


Autora: Terezinha Malaquias

Voltei do ensaio da peça de teatro cantarolando felicidade que só eu ouvia. Desci no meu ponto de ônibus sozinha.
De repente na calçada estreita surgiu como que por encantamento um casal à minha frente.
Pensei e agi mais rápido ainda. Fui para a rua. Ela, ele e eu estávamos sem máscaras.
O homem me olhou e perguntou? Você tem medo do (corona) vírus? Somos saudáveis.
— Sem graça e com um pouco de vergonha falei: fui para a rua, porque a calçada é muito estreita para nós três.
Ele: “Eu vi o medo nos seus olhos”.
Minha vergonha cresceu, e perguntei: o senhor é cartomante?
Ele: “Sou sim, vejo tudo”.
Eu: Haha, então eu gostaria de saber quais são os números da (loto) para a próxima semana?
Ele: Sei, mas não vou contar, jovem senhora. Bom domingo e tchau!
Eu: Muito obrigada! Igualmente!
Ao entrar em no meu Lar, eu ainda tinha um sorriso feliz estampado  meu rosto.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

SORVETE, BICICLETA, VERÃO NA PRIMAVERA E PORTUGUÊS

 SORVETE, BICICLETA, VERÃO NA PRIMAVERA E PORTUGUÊS

Autora: Terezinha Malaquias


Saí cedo de casa para ir a uma consulta com o meu ortopedista. Tenho ido com muita frequência no consultório dele. Além dos meus ombros, os meus joelhos têm doído muito nos últimos meses. Percebo a passagem do tempo chegando rápido demais. Não sei se gosto. Mas agora é assim.

Depois da consulta fui caminhando para o meu ateliê. No caminho vi muitas pessoas a pé ou de bicicleta. Um homem passou por mim na sua Bike cantarolando bem alto uma música italiana. Ele parecia feliz. Pensei: o calor dos 30 graus de hoje muda muito o meu humor. Talvez mude o dele também. Para melhor! Sou tropical e sinto muita falta do sol e do calor do Brasil, aqui em Freiburg. Na cidade que vim morar por amor ao homem que conheci no Brasil.

Um pouco depois das 14h voltei para casa e preparei muitos detalhes para a exposição que farei amanhã ao ar livre. No meio das gramas e das árvores. Estou ansiosamente feliz!
Às 20:35 saí novamente para ir ao atelier buscar algumas obras de arte e pegar o meu cavalete. Escolhi esse horário porque o ônibus e o bonde ficam mais vazios. Eu precisava de mais espaço e tranquilidade para transportar o meu trabalho.

Já na volta, o relógio da torre marcava 21h20 e ainda estava um pouco claro. Vejo muitas pessoas pedalando suas bicicletas. Passa um casal que parecia simpático. Ele empurra a bicicleta com uma mão. Na outra segura um sorvete que me deixou cheia de vontade. A mulher que estava com ele também tinha um sorvete numa das mãos. Conversavam e riam alegremente.

O bonde chegou e entrei com calma. Três pontos depois desci para pegar outro bonde ou um ônibus. No ponto, tive a sensação de que tinha ouvido alguém falar português de verdade. Muitas vezes penso que ouvi português, mas, na verdade, não é. Hoje no dia de verão na primavera, dia de sorvete e cantoria, era o meu português brasileiro acariciando os meus ouvidos e sensações. O melhor, era uma querida amiga que falava ao telefone o nosso idioma, mãe.
Um dia ensolarado, com o céu azul encerrava uma noite iluminada de paz pela luz do dia que ainda iluminava um pouco antes das 22h quando cheguei no meu Lar.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

ERA ASSIM

Autora: Terezinha Malaquias

No fogão á lenha 
Mamãe preparava o nosso almoço
No domingo
Era especial
Tinha arroz 
Feijão bem temperado
Frango ensopado
Angú de milho verde
Salada de alface e tomate
A bebida era água natural
Que vinha diretamente da mina
Com gotinhas de limão amarelo
A sobremesa era goiabada com queijo minas
Das minhas Minas Gerais
Na minha terra natal
Frutal
Na casa onde nasci
O quintal era de terra batida
Nossa casa era toda cor de rosa
Todas as noites meus pais
 Se sentavam na calçada 
 Os amigos iam chegando
As comadres e os compadres também
As crianças brincavam seguras na rua
Ás vezes davam voltas no quarteirão
E os adultos sem nenhuma preocupação
Continuam a prosear
Sobre coisas simples, como o luar
A saudade é grande
Rasga meu coração




DELICADEZA

 DELICADEZA

Autora: Terezinha Malaquias.
20h09
Uma mulher caminha à margem do rio. Ela acabou de sair do seu trabalho. Usa roupas pretas e uma echarpe com tons azuis e verde. Botas de cor caramelo.
Uma chuva fina e gelada do mês de abril está caindo sobre o seu guarda chuva cor de rosa.
Ela está muito reflexiva sobre a vida e o momento atual. Mas está bem e feliz. Tem tanta luz que se pode ver da cabeça até seus pés que caminham firmes.
Uma moça bem jovem passa pela mulher. Caminha em direção contrária. Tem a cabeça baixa e parece carregar uma tristeza pesada pelo corpo todo.
20h21
A mulher abre a porta do seu prédio (que não tem porteiro). Sobe até o quarto andar pelo elevador.
20h23
Abre a porta do seu Lar. O marido ainda está preparando aulas para a manhã seguinte. Ele começa a trabalhar bem cedo.
Ela vai para a cozinha terminar de fazer o jantar feito a quatro mãos hoje.
Enquanto a comida termina de se fazer sozinha no forno, ela senta para escrever. Tem essa mania de escrever tudo e sempre. Tem gente que pensa que ela é meio doída da cabeça. Nasceu com desejo a arte e da escrita. Vê beleza e poesia onde ninguém vê.
Às 21h10
O despertador toca avisando que a comida está pronta. O marido pergunta:" Amor quer que eu faça o seu prato"? Ela responde:"Ja"/sim meu amor"!
21h15
O marido traz o prato feito. Ela agradece o pão de cada dia e a delicadeza!






segunda-feira, 21 de março de 2022

COSTURA DA SAUDADE



Na mesa de trabalho, há um lindo guardanapo feito de retalhos coloridos, que eu ganhei de uma amiga, na última vez que estive em São Paulo. A amada professora Kazuyo. Sobre ele estão duas fatias de pão integral com manteiga, uma fatia de queijo amarelo e uma xícara de café com leite de aveia, sem açúcar. 

O que nós não vemos é a saudade contida nesse simples café da manhã recheado de lembranças, a memória interna que dança no coração da nostalgia. O guardanapo foi escolhido com delicadeza e propósito porque hoje, mais do que ontem, a saudade grita dentro do meu corpo inteiro, ela berra em meu ser. Neste pano, pedaços de histórias são unidos com as linhas do amor e do afeto. 

A lembrança da costura da minha mãe, assim como ela, segue eternizada em mim. Nos tempos mais difíceis, mamãe fazia as nossas roupas à mão: blusas, vestidos, calças, camisas, saias... 

O pão era feito em casa, no forno à lenha. Em tempos melhores, as roupas eram costuradas à máquina. Depois começamos a adquiri-las em lojas, muitas vezes à prestação. Os pães passaram a ser comprados.

 São Paulo sempre teve inúmeras padarias, perfumadas de sabores. Os seus cheiros povoam os meus sentidos, sensações e sentimentos que me acompanham desde o comecinho da minha adolescência até hoje. Sim, eu ainda sinto os seus aromas impregnados em mim.